Nesta entrevista com Luiz Carlos Mendonça de Barros, a repórter Patrícia Comunello conta para os leitores do Jornal do Comércio uma série de novidades sobre a instalação da fábrica de caminhões chineses Foton em Guaíba. Leia o trecho editado e no link toda a entrevista.
Enquanto saem milhões de toneladas de soja para a China,
o país asiático retribui ao Rio Grande do Sul com caminhões. A chegada de 100
unidades de modelos leves da marca Foton no Porto do Rio Grande, neste mês,
cumpre acordo que atraiu ao Estado a primeira planta da marca no Brasil,
capitaneada pelo grupo nacional Foton Aumark do Brasil. O presidente do
Conselho de Administração da Foton Aumark, Luiz Carlos Mendonça de Barros,
ministro e presidente do Bndes no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso
(PSDB), informa que, até o fim do ano, a importação pelo porto gaúcho somará
700 unidades, além de 100 contêineres com peças e acessórios. Barros acaba de
passar o posto de principal executivo da empresa a Bernardo Ramacek, ex-Iveco e
Fiat, para se dedicar a novos projetos, leia-se investimentos. A Foton tem
interesse, revela, em produzir caminhões pesados e ônibus no Brasil, e o Estado
deve ser a base.
JC – Como se comportará o mercado de caminhões?
Barros – A decisão de montar a fábrica da Foton em Guaíba
é baseada na certeza de que essa situação transitória será vencida, e o País
entrará em outra etapa de crescimento e com malha rodoviária diferente. Teremos
maior frota de caminhões pesados e aumento de demanda de modelos leves, o que
ocorrerá entre 2016 e 2017, quando a nossa produção chegará ao mercado.
JC – Como está a infraestrutura no Estado?
Barros – O Rio Grande do Sul deu um passo atrás com o fim
dos pedágios concedidos. O problema não é construir estradas, mas fazer
manutenção, o que eleva os custos dos transportadores. Como o governo federal
já se rendeu às concessões de estradas, não há dúvida de que o Estado, mais
cedo ou mais tarde, retomará essa política. Outro detalhe é que a Argentina
está chegando ao fim de um ciclo depressivo. Como já ocorreu antes, daqui a
três a quatro anos a situação estará em nível bem superior, o país retomará o
crescimento e o Estado será um dos beneficiados.
JC – O modelo de fábrica de veículos lá e cá está nos
planos?
Barros – Ou então importar componentes de lá, que é
possível de se fazer. Mas ainda não temos definição sobre isso, pois a agenda
para implantação da fábrica está muito intensa. O governo protecionista de
Cristina Kirchner está com os dias contados. O ciclo lá é sempre: esquerda e
direita, direita e esquerda.
JC – Como está o empreendimento em Guaíba?
Barros – Nas obras de infraestrutura, como o cercamento,
pois o terreno é muito grande (100 hectares), além de cortar algumas árvores,
sob supervisão da Fepam. Tem de cortar com tesoura de unha (risos). Vamos
começar, no fim do mês, as primeiras construções. Por volta de março de 2016,
deverá estar saindo o primeiro caminhão. A novidade é que estamos começando,
neste mês, as primeiras importações de modelos de 10 toneladas da China via
porto do Rio Grande. Os veículos são montados e totalmente adaptados para o
mercado brasileiro. Também virão versões de 3,5 t. Depois os lotes serão
mensais, que somarão 700 caminhões até o fim do ano e 100 contêineres de peças
e acessórios. Antes entrava tudo pelo porto de Vitória, no Espírito Santo, e
agora será tudo por Rio Grande, seguindo protocolo firmado com o Estado. O
centro de distribuição fica em Jundiaí, em São Paulo, mas certamente teremos um
próximo à fábrica.
JC – Haverá mais investimentos no Brasil?
Barros – A Foton é uma empresa muito grande e tem outros
projetos para o Brasil. Estou conduzindo isso, mas não posso falar. São novas
áreas de investimentos, querem trazer caminhão pesado e talvez ônibus. A ideia
é fazer tudo no Rio Grande do Sul. Eles querem ser um player forte no Brasil.
JC – Como está a participação do Estado no investimento?
Barros – Estamos discutindo com o Badesul, e o Bndes está
orientando. O mais difícil é estabelecer o que representará o aporte de R$ 40
milhões no capital acionário. O dinheiro está previsto para entrar no fluxo de
caixa em 2015, mas queremos resolver em até dois meses. Acho que a eleição não
atrapalhará, pois o projeto foi aprovado com unanimidade na Assembleia
Legislativa.
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