Alexa Salomão e Ricardo Grinbaum, do jornal "O Estado de S. Paulo", entrevistaram Armínio Fraga. Há poucas semanas, o senador Aécio Neves, candidato dado
como certo para disputar a presidência pelo PSDB, oficializou a escolha do
economista para o posto de coordenador econômico de sua campanha. Muitos já o
consideram ministro da Fazenda, caso o PSDB ganhe a eleição. Ex-presidente do
Banco Central, Fraga diz que ainda não se aprofundou no estudo das propostas,
mas o esboço tem pilares claros: fortalecer a política fiscal, ajustar a
inflação para o centro da meta, desengavetar a reforma tributária, entre outras
medidas que podem exigir ajustes nem sempre populares. Mas ele acredita que o
importante é antecipar o que deve ser feito, sem "populismo"
eleitoral. "O custo de tomar medidas impopulares é muito menor do que o de
não tomar", diz na entrevista que segue. Leia tudo:
Como o sr. vê a economia hoje?
Estou vendo um quadro que se quantifica com poucos
números. Um crescimento baixo, já entrando pela quarto ano, e a sinalização de
que o ano que vem também pode ser difícil por causa dos problemas que estão se
acumulando. Ao mesmo tempo, há uma inflação alta, em torno de 6%, já há
bastante tempo, mas reprimida. A inflação real anda mais alta. Talvez entre 7%
e 8%. Esse não é um quadro bom. Há também o fato de que o déficit em conta
corrente do Brasil caminha para 4% do PIB no momento em que os Estados Unidos
segue para a normalização da taxa de juros e, eventualmente, a China deve
desacelerar. Isso também é uma questão, especialmente porque a taxa de
investimento do País não está aumentando. Agora está acontecendo um movimento
no mercado - que eu diria ser técnico, com recursos mais de curto prazo, indo
para um lado ou para outro, mas isso não deve trazer um grande conforto. O
quadro geral ainda não é tranquilo lá fora. Olhando aqui para dentro no Brasil,
hoje o governo concede 60% do crédito, que incorpora ainda repasses do BNDES.
Há não muitos anos eram 40%. É um modelo testado por nós, testado por vários
outros países que tende a não entregar o resultado que se quer - tanto do ponto
de vista de produtividade, da qualidade das decisões de crédito e financiamento
que são tomadas, quanto do ponto de vista do risco. O exemplo radical são os
Estados Unidos com as grandes do mercado de hipotecas, Fannie Mae e Freddie Mac
(empresas privadas, mas com propósito público, que eram implicitamente
garantidas pelo governo), que tiveram uma participação fundamental na bolha -
uma senhora bolha. Mesmo nos países mais maduros, essas lições permanecem
válidas. Há outros temas, de caráter mais setorial. Energia está no topo da
lista. Estamos correndo um risco muito grande nessa área. Os dados,
infelizmente, vêm piorando. É grave a questão. O setor de petróleo é outro bem
conhecido. À Petrobrás foi designado o papel de grande locomotiva do setor,
mas, ao mesmo tempo, o governo vem asfixiando o fluxo de caixa da empresa. Para
não falarmos de outras intervenções, como o mix de política industrial,
política setorial também. Enfim, que não vem dando resultado. Talvez fosse até
previsível. Em paralelo, estamos vivendo a crise no setor de etanol - o que é
uma tristeza. O setor tem tudo para ser um líder global. Esse é um setor menos
antipático ao meio ambiente do que o do petróleo, que o dos combustíveis
fósseis. Estamos na situação singular de subsidiar o setor de combustíveis
fósseis - algo que vai na contra mão da recomendação técnica. A determinação é
taxar e não subsidiar, porque esse setor produz um efeito negativo para a
sociedade. Esse é o típico caso em que se recomenda fazer o oposto do que
estamos fazendo. A infraestrutura também é uma área que apresenta muitos
desafios. Nesse caso, a visão é que temos uma moeda com dois lados. Por um
lado, a infraestrutura virou um gargalo seriíssimo em praticamente todas as
suas dimensões - e, portanto, é uma barreira ao crescimento. Mas ela deveria
ser uma fantástica oportunidade. Eu acho que se os futuros governos acertarem a
mão nas questões regulatórias e em outras que influenciam esse setor, eu penso
que ele pode virar ao nosso favor. Mas, nesse momento, é um problema. O resumo
é o seguinte, pensando de uma maneira mais esquemática: a minha leitura é que
hoje nós temos uma macroeconomia que está perdendo as âncoras. A área fiscal
perde credibilidade, o chamado tripé certamente está bem fragilizado. A
microeconomia, que deveria funcionar mais livre, apostando na concorrência,
sofre por estar muito amarrada - e amarrada na parte que cabe ao governo. Portanto,
temos dificuldades em buscar mais produtividade.
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